segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A epidemia do Crack

Cortadores de cana de SP contam dramas após vício no crack

'Pensava que o crack era meu Deus', diz trabalhador em tratamento.
'Se usar na lavoura, você fica assombrado, vê cobra, vê tudo', afirma outro.

Internados em clínicas de reabilitação, ex-cortadores de cana de Iracemápolis, a 150 km de São Paulo, e de Leme, a 188 km da capital, contam ao G1 como se viciaram no crack e de que forma a droga quase destruiu suas vidas. Relatório da Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack divulgado na semana passada mostra o avanço da droga no interior paulista e a falta de leitos para tratamento. Os deputados estaduais afirmam que entre os principais usuários estão os lavradores, que se valem da droga para suportar a carga de trabalho.

Em Iracemápolis - cidade de 20 mil habitantes que abriga uma usina de açúcar e álcool -, dependentes de crack fumam a droga não em uma cracolândia de concreto e asfalto como em São Paulo, mas em bosques e áreas verdes próximas ao centro da cidade. Sem leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), a Prefeitura contrata vagas em clínicas particulares - situação semelhante à de boa parte das cidades. O estudo da Assembleia Legislativa mostra que 79% dos municípios consultados não contam com leitos hospitalares do SUS.
O levantamento, feito em 325 dos 645 municípios, revela ainda que nas cidades médias do interior do estado - com população entre 50 mil e 100 mil habitantes - o crack é tão citado pelos prefeitos quanto o álcool como a droga mais usada, com 38% das manifestações.

Cortador de cana em Iracemápolis, um rapaz de 21 anos, que pede para não ser identificado, diz que usava a droga dentro do canavial. "Muitas vezes eu levava o crack para dentro da lavoura, muitas vezes a pessoa levava para mim, chamava para gente usar lá dentro e era direto, não parava. Fora o crack, tinha muitas outras drogas: cocaína, maconha e até bebida alcóolica."

Ao contrário do que dizem os deputados, ele afirma que não dá para usar o crack durante o expediente. "O crack tira totalmente sua força. O pensamento do crack é só no crack. Quanto mais eu uso, mais eu quero. Não tem força física nem mental nem nada." Internado há quatro meses, o rapaz já ajuda na organização interna da clínica e diz que pretende retomar a vida com mais religiosidade ao sair. "Perdi muitas coisas, o respeito da minha mãe, o carinho da minha namorada e o amor dos amigos. Eu pensei que o crack era meu Deus", afirma.

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Fonte: G1
Roney Domingos Do G1 SP, em Iracemápolis

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